Cabo Delgado: Acnur relata drama de famílias separadas e fugas para a Tanzânia
04 junho 2021
Legenda: Uma mãe deslocada e seus filhos buscam água na comunidade de deslocados internos de Intele no distrito de Montepuez, Cabo Delgado, Moçambique.
Agência da ONU para Refugiados apura relatos de regressos forçados de moçambicanos que tentam salvar suas vidas ao escapar para o país vizinho.
Maputo, Moçambique - A Agência da ONU para Refugiados, Acnur, informou que está acompanhando novos relatos sobre o regresso forçado de famílias moçambicanas por autoridades da Tanzânia, na fronteira com o norte.
Os moçambicanos estão fugindo da violência do conflito na província de Cabo Delgado, entre tropas do governo e extremistas islâmicos.
Pelo menos 62 mil moçambicanos foram forçados a abandonar a cidade costeira de Palma após os ataques de grupos armados não estatais, em 24 de março.
O Acnur pediu aos países vizinhos que respeitem o acesso ao asilo das pessoas que tentam salvar suas vidas.
Segundo a agência da ONU, várias famílias estão escapando da insegurança somente com a roupa do corpo. Muitas pessoas estão se perdendo das próprias famílias. Os maiores movimentos ocorrem nos distritos de Mueda, Nangade, Montepuez e Pemba por vias terrestre, aérea e marítima.
Antes do ataque dos terroristas a Palma, já havia cerca de 700 mil deslocados incluindo nas áreas de Nampula, Niassa, Sofala e Zambézia. A situação humanitária foi agravada.
Somente em maio, quase 3,8 mil moçambicanos que seguiam para a Tanzânia tiveram que retornar na fronteira em Negomano.
Legenda: A escalada do conflito em Cabo Delgado no último ano causou uma grave crise humanitária, forçando quase 700 mil pessoas a deixarem suas casas.
A agência da ONU ouviu 68 pessoas em Negomano entre elas sobreviventes de violência de género, idosos e grávidas. Uma mulher deu à luz durante a devolução forçada para Moçambique, sem qualquer apoio médico.
Na sede de Mueda, dezenas de moçambicanos confirmaram a expulsão sistemática e recorrente.
Eles mencionaram ter preocupações com a proteção, a separação de famílias e a falta de assistência humanitária já antes observadas.
A maioria fugiu para a Tanzânia temendo a violência nos distritos do norte de Cabo Delgado, particularmente Palma e Muidumbe.
O grupo confirmou que é comum ocorrer sequestros de membros da comunidade nas suas áreas de origem.
Legenda: Os recentes ataques em Palma forçaram a saída de pelo menos 11.000 pessoas da região, com milhares de outras presas dentro da área.