Experiência feminina orienta resposta internacional à Covid-19 em Moçambique
Falando à ONU News, Coordenadora Residente das Nações Unidas no país diz que resiliência de mulheres em cenários de crise é exemplo para o mundo.
Maputo, Moçambique - A Coordenadora Residente das Nações Unidas e Coordenadora Humanitária para Moçambique, Myrta Kaulard, disse que a resposta à COVID-19 no país teve uma atenção particular para as mulheres, que foram mais afetadas durante a crise de saúde.
Esta segunda-feira, 8 de março, a ONU marca o Dia Internacional da Mulher, com o tema “Mulheres na liderança: Alcançando um futuro com igualdade num mundo de COVID-19".
Resposta
Em declaração para a ONU News, de Maputo, a Coordenadora destacou vários desafios enfrentados pelas mulheres durante a crise, como desemprego e aumento das responsabilidades familiares.
“Liderar a resposta à Covid-19, sendo uma mulher, é uma oportunidade de apoiar as minhas colegas, que têm famílias, que vivem sozinhas, e que tiveram logo muitos desafios, com as crianças em casa, logística complicada, num momento de mais trabalho. O facto de ser mulher permite-me ter uma atenção particular às condições das mulheres, que são as mais vulneráveis, e que com a Covid-19 têm muitos mais desafios. Isso deu-me a possibilidade de orientar as intervenções das Nações Unidas e dos parceiros internacionais para ter uma atenção particular nas mulheres”.
Segundo dados da ONU, as mulheres são 24% mais propensas a perderem seus trabalhos e sofrer grandes perdas de renda. Ao mesmo tempo, representam cerca de 70% dos trabalhadores em saúde.
Exemplo
Myrta Kaulard tem mais de 30 anos de experiência em cenários internacionais, tendo passado por países como Nigéria, Haiti, Guiné Conacri, Cuba, Indonésia, entre outros.
À ONU News, ela lembrou o que aprendeu com mulheres que enfrentaram situações de crise em todos esses países.
“A situação da COVID-19 lembrou-me muito da situação de outras mulheres que vi em situações de crises. Passei toda minha carreira nas Nações Unidas em situações de desastre e de crises e sempre tenho muita admiração pelas mulheres que passam por estas situações, porque posso ver sempre como têm um tempo de reação muito rápido, uma resiliência exemplar, porque tem que reorganizar logo tudo para seguir com a vida da família, a sua vida econômica”.
Myrta Kaulard lembrou o exemplo de uma mulher que conheceu no terreno, a diretora do programa de alimentação escolar no Haiti, durante o terremoto no país em 2010.
“Depois do terremoto, quando a encontrei uns dias depois, ela contou-me o que a sua mãe lhe tinha explicado e ensinando. Em frente de qualquer crise, tens 24 horas para te recuperares, depois tens de ter uma solução e tens de ir em frente. Por essa razão, ela muito, muito rapidamente pode converter o programa de alimentação escolar em um programa de alimentação para os bairros mais pobres, onde as populações não tinham nada, por causa do terremoto. Isto é uma característica das mulheres e uma característica que se tem de promover”.
Espaço
A resposta à COVID-19 tem destacado o poder da liderança feminina. No ano passado, países com mulheres líderes tiveram as menores taxas de transmissão e estão com frequência em melhor posição para a recuperação.
Ainda assim, as mulheres são apenas um quarto dos legisladores nacionais em todo o mundo, um terço dos membros locais de governo e apenas um quinto dos ministros.
Para a chefe da ONU em Moçambique, a pandemia é uma oportunidade para mudar esta situação e cumprir os Objetivos do Desenvolvimentos Sustentável.
“Gostaria de insistir na importância de dar espaço as mulheres, na liderança, na busca de soluções, porque as mulheres representam 50% da população global, então é importante que as soluções para os problemas representem estes 50% da população. Mas é também uma oportunidade de aproveitar a resiliência que as mulheres têm em situações de crises. Perdemos muito ao não escutar as soluções que as mulheres propõem nas crises e esta crise da COVID-19 pode se tornar uma solução grande para os desafios do desenvolvimento sustentável”.
Vacinas
Esta segunda-feira, Moçambique recebeu as primeiras doses de vacina contra a COVID-19 através da iniciativa Covax. No total, o país recebeu 384 mil doses do mecanismo que pretende garantir uma distribuição de imunizantes em todo o mundo.
Até esta segunda-feira, Moçambique tinha confirmado mais de 60 mil casos de Covid-19 e 686 mortes.