“Comida traz esperança e é exatamente disso que as pessoas precisam aqui”
22 fevereiro 2021
Duas semanas após o ciclone Eloise atingir Moçambique, solidariedade e esperança ajudam as vítimas em centros temporários de acomodação.
Beira, Moçambique - Eram cerca de 3 da manhã do dia 23 de janeiro quando a chuva e o vento forte começaram. Poucos minutos depois, o fornecimento de energia foi cortado. Tudo estava escuro. O som de telhados sendo arrancados das casas e árvores enormes batendo no chão foram aterrorizantes para os residentes da Beira, em Moçambique.
“Podíamos ver o nível da água subindo, mas era tarde demais para sair de casa. A única coisa que podíamos fazer era rezar pelo melhor”, disse Maria Brito, mãe de seis filhos que encontrou abrigo num centro temporário de acomodação na Beira, onde o Programa Mundial para a Alimentação (PMA), o Governo e outros parceiros humanitários têm fornecido alimentos, abrigo e produtos de higiene para mais de 17.000 pessoas.
Menos de dois anos após o Ciclone Idai ter devastado Moçambique fazendo com que 1,7 milhões de moçambicanos necessitassem de assistência humanitária, o Ciclone Eloise atingiu a mesma região no dia 23 de janeiro de 2021.
Segundo o Governo, mais de 441.000 pessoas foram afectadas pelo Ciclone e cerca de 44.000 estão atualmente deslocados. 745 salas de aula foram danificadas ou destruídas, afetando mais de 83.000 alunos.
Sara Luis, mãe de dois filhos, passou quase um ano reconstruindo sua casa após o Ciclone Idai e agora perdeu tudo mais uma vez. A última vez que ela viu sua casa, estava completamente submersa pela inundação causada pelo ciclone Eloise.
Em busca de segurança contra as enchentes, ela passou as duas semanas seguintes em um dos 14 centros de acomodação na Beira. Embora as necessidades básicas de Sara e sua família estejam sendo atendidas, ela disse “nenhum lugar é como a nossa casa. Não tinha muito, mas era tudo meu”. Assim que deixar o centro, ela planeja ficar com a irmã enquanto reconstrói sua vida mais uma vez.
Em meio a grande sofrimento, solidariedade e esperança ajudam a comunidade a sobreviver a este novo desastre.
Maria Brito, mãe de seis filhos, e Graça Quimbine, mãe de três filhos, também foram obrigadas a deixar suas casas em meio à tempestade. Agora, elas se voluntariaram para cozinhar a comida fornecida pelo PMA para quase 1.000 pessoas no centro de acomodação onde estão alojadas.
As duas mulheres acordam às 4h30 todos os dias para começar a preparar o café da manhã. O prato de hoje se chama papa, uma farinha de milho fervida com água e açúcar. Para o almoço, vão cozinhar Feijão com Xima, um mingau feito com farinha de milho típico de Moçambique. Quando questionadas sobre o porquê delas terem se oferecido para um trabalho tão intenso, Maria responde:
“Comida traz esperança e é exatamente disso que as pessoas precisam aqui”. Para Graça, “ver o sorriso no rosto das crianças quando a barriga está cheia, não tem preço”.
Além de apoiar as populações afetadas após desastres naturais, fornecendo assistência alimentar, o PMA adota uma abordagem pró-ativa para reconstruir os meios de subsistência ao mesmo tempo que responde a choques climáticos.
“Depois dos Ciclones Idai e Kenneth, o programa de recuperação do PMA beneficiou 1,2 milhão de pessoas em Moçambique”, disse Antonella D’Aprile, Representante do PMA em Moçambique.
“A assistência alimentar foi fornecida às comunidades envolvidas na reparação de estradas e pontes, reconstrução de casas e desenvolvimento de fazendas comunitárias para aumentar a produção de alimentos”, conitnua a Representante do PMA.
Ao ajudar as comunidades a reconstruir seus meios de subsistência, o PMA ajudou as pessoas a reiniciarem suas vidas e dar esperança de que dias melhores iriam chegar. Também ajudou os moçambicanos a se tornarem mais resilientes a desastres climáticos. No Distrito de Sengo, Província de Sofala, por exemplo, graças ao PMA, a comunidade local está replantando árvores nos mangais que protegerem a aldeia da erosão, fornecer-lhes materiais para melhorar as suas casas e protegem a vida marinha que é essencial para as seus meios de subsistência.
O mesmo será feito a aqueles que estão enfrentando as consequências do ciclone Eloise. Mais do que fornecer assistência alimentar em todos os 31 centros temporários de acomodação, o PMA está elaborando um plano de recuperação de longo prazo para ajudar as pessoas afetadas pelo ciclone a se recuperarem e ficarem mais resilêntes a choques como este.
As operações do PMA na Província de Sofala - incluindo a resposta a ciclones e a assistência no período entre as safras - foram possíveis graças ao apoio generoso da USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional), a A Reserva Europeia de Proteção CivilECHO), o Departamento para o Desenvolvimento Internacional do Reino Unido e o governo da Alemanha.