Guterres cita Moçambique em discurso sobre prioridades à Assembleia Geral: 2021 será ano de oportunidades
Secretário-Geral apresentou 10 áreas de ação aos Estados-membros da ONU, incluindo resposta à pandemia, desigualdade, direitos humanos e mudança climática.
Maputo, Moçambique - O Secretário-Geral, António Guterres, descreveu 2020 como um “annus horribilis”, ou ano horrível, em latim, devido à pandemia da Covid-19, a emergência climática e outras ameaças globais.
Em discurso na Assembleia Geral, ele apresentou as suas 10 prioridades para 2021 que irão reforçar acima de tudo as oportunidades do momento atual e chamar os Estados-membros a tomar ação, ambição e aceleração e transformar 2021 em um “annus possibilitatis” (ano de possibilidades, em latim), um ano de oportunidade e esperança.
“É possível construir o mundo que queremos. Devemos fazer isto acontecer. Juntos” - Antônio Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas.
Prioridades
O Secretário-Geral destacou 10 prioridades, incluindo resposta à pandemia, recuperação da crise de saúde, combate às mudanças climáticas e a perda de biodiversidade.
Guterres também mencionou pobreza e desigualdade, direitos humanos, igualdade de gênero e paz e segurança, lembrando o seu apelo por um cessar-fogo global, feito em março passado.
O chefe da ONU citou a ameaça das armas nucleares, a importância das tecnologias digitais e a necessidade de repor a governança global e fortalecer o multilateralismo.
“2020 nos trouxe tragédia e perigo. 2021 deve ser o ano para mudar de marcha e colocar o mundo nos trilhos. Precisamos passar da morte para a saúde; do desastre à reconstrução; do desespero à esperança; do ‘business as usual’ à transformação” - Antônio Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas
As 10 prioridades elencadas para 2021 pelo Secretário-Geral são:
- Resposta à pandemia: promover equidade de vacina, incluindo através da iniciativa COVAX, garantindo acesso aos países mais pobres do mundo
- Recuperação da pandemia: garantir pacotes de apoio que avancem na sustentabilidade e inclusão
- Emergência planetária: combater as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade
- Pobreza e desigualdade: combater os graves impactos da pandemia em ambas
- Direitos humanos: combater o retorno e se posicionar contra o neonazismo e o avanço da justiça racial
- Igualdade de gênero: enfrentar as injustiças sociais e econômicas expostas pela pandemia e o aumento da violência contra mulheres e meninas
- Paz e segurança: alcançar o cessar-fogo global
- Armas nucleares: parar a erosão do desarmamento e do regime de não-proliferação
- Tecnologias digitais: fechar a divisão digital, promover comportamento responsável no ciberespaço e combater a disseminação do ódio e da desinformação online
- Repor a governança global e fortalecer o multilateralismo: garantir a entrega de bens públicos globais, não apenas em saúde pública, mas também na paz e para um meio ambiente saudável
Moçambique, paz e segurança
Para enfrentar as atuais ameaças à paz e à segurança, o Secretário-geral afirmou que “precisamos encontrar uma ponte de volta ao bom senso”. Segundo ele, não podemos resolver nossos maiores problemas quando nossos maiores poderes estão em conflito.
Falando sobre os atuais desafios e oportunidades em termo de segurança, o Chefe da ONU lembrou que pediu um cessar-fogo global para se concentrar no inimigo que todos os países estão enfrentando, o coronavírus, e afirmou que viu alguns sinais encorajadores e uma nova vida foi soprada para os hesitantes processos de paz.
O Secretário-Geral defendeu que as forças africanas de implementação da paz, inclusive futuras colaborações multinacionais, merecem financiamento estabelecido e mandatos do Conselho de Segurança.
António Guterres declarou que Moçambique e outras áreas em África são fonte de grande preocupação ao nível da paz:
“Na região do Sahel, Chade, República Democrática do Congo e Moçambique vemos o terrorismo aumentar na ausência de segurança e na incapacidade de lidar com causas de raízes económicas, climáticas e sociais” - Antônio Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas.
Agenda 2030
O Secretário-Geral reforçou que a Agenda 2030 fornece uma estrutura acordada para o progresso e instará os estados-membros a reiniciar a Década de Ação para entrar no rumo certo para entregar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável até 2030.
"Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável são mais importantes do que nunca. Agora é a hora de garantir o bem-estar das pessoas, economias, sociedades e nosso planeta" - Antônio Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas.
Mudanças Climáticas
Sobre as mudanças climáticas, o secretário-geral dará uma “lição de casa” para os estados-membros cumprirem até a COP26 em novembro, em Glasgow:
- Formar coalizão de neutralidade de carbono para cobrir 90% das emissões de gases de efeito estufa
- Submeter ambiciosas Contribuições Nacionais Determinadas
- Alcançar um avanço em adaptação
- Cumprir todo o comprometimento financeiro, incluindo 100 bilhões de dólares para os países em desenvolvimento
- Adotar políticas transformadoras na transição de combustíveis fósseis e alinhar a tomada de decisão fiscal e econômica com a neutralidade de carbono.
O mundo vem de um ano de tragédia e risco. Mas a crise dá a chance de mudança. O secretário-geral reforçará o repetido refrão de discurso:
“É possível construir o mundo que queremos. Devemos fazer isto acontecer. Juntos” - Antônio Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas.
Pandemia, direitos humanos, racismo e neonazismo
“As vacinas estão chegando a um punhado de países rapidamente, enquanto os países mais pobres não têm nenhuma. A ciência está tendo sucesso - mas a solidariedade está falhando” - Antônio Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas.
Sobre a resposta à pandemia, o Secretário-Geral repetiu a necessidade de ter uma distribuição global de vacinas.
Segundo ele, se o mundo deixar o vírus “se espalhar como um incêndio no Sul Global, ele inevitavelmente sofrerá mutações, tornando-se mais transmissível, mais mortal e, eventualmente, mais resistente às vacinas, pronto para voltar e perseguir o Norte Global”.
Sobre direitos humanos, Guterres destacou a luta pela justiça racial, dizendo que desigualdade nessa área “ainda permeia instituições, estruturas sociais e o cotidiano.” Segundo ele, todos devem se “levantar contra a onda de neonazismo e supremacia branca”.
Igualdade de Gênero
Ao mencionar igualdade de gênero, ele declarou que “a economia formal só funciona porque é subsidiada pelo trabalho não-remunerado das mulheres”.
"COVID-19 trouxe à luz o que muitas vezes é invisível. As mulheres são os trabalhadores essenciais para manter as pessoas e as comunidades vivas" - - Antônio Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas.
Para o Seretário-Geral é hora de mudar estruturas e modelos arraigados e defender a igualdade de gênero em todas as esferas da sociedade.
Multilateralismo
Guterres pediu que a comunidade internacional retorne ao “bom senso” para evitar uma Grande Fratura que dividiria o mundo em dois. Segundo ele, o mundo não pode resolver seus maiores problemas quando as maiores potências estão em conflito.
Ainda esta quinta-feira, o secretário-geral falará a jornalistas em Nova Iorque sobre as suas prioridades para esse ano.
À tarde, o chefe da ONU deverá entrar na fila para ser vacinado contra a COVID-19.