Maputo, Moçambique - Em declaração divulgada por seu Porta-voz, nesta terça-feira, o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, expressou choque com os relatos de massacres cometidos por grupos armados não-estatais em várias aldeias, incluindo relatos de decapitações em massa e sequestros de mulheres e crianças.
“Ele condena veementemente essa brutalidade gratuita”, enfatiza a declaração.
"O Secretário-Geral insta as autoridades do país a conduzir uma investigação sobre esses incidentes e a responsabilizar os responsáveis. Ele apela a todas as partes em conflito que cumpram as suas obrigações no âmbito do direito internacional humanitário e dos direitos humanos".
O Sr. Guterres também reiterou o compromisso das Nações Unidas em continuar a apoiar o povo e o Governo de Moçambique em responder urgentemente às necessidades humanitárias imediatas e aos esforços para defender os direitos humanos, promover o desenvolvimento e prevenir a propagação do extremismo violento.
De acordo com relatos da mídia, um grupo armado atacou várias aldeias no norte da província entre 6 e 8 de novembro, matando brutalmente mais de 50 pessoas, sequestrando várias mulheres e crianças e queimando casas.
Durante sua participação no debate da Assembleia Geral da ONU, em setembro, o presidente do país, S.Exa. Filipe Nyusi, afirmou que mais de 1 mil pessoas já haviam morrido com a violência em Cabo Delgado.
Segundo Nyusi, os confrontos já causaram o deslocamento de centenas de milhares de moçambicanos numa área que já sofria as consequências de um dos dois ciclones que atingiram o país no ano passado.
Situação humanitária
De acordo com o Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários das Nações Unidas (OCHA), a situação humanitária na província de Cabo Delgado se agravou em 2020, na sequência de uma escalada de conflito, agravada por uma situação frágil de desenvolvimento, choques climáticos consecutivos e surtos de doenças recorrentes.
O número crescente de ataques por grupos armados não estatais, particularmente afetando os distritos do norte e leste da província, tem causado deslocamentos múltiplos, prejudicando os meios de subsistência das pessoas e o acesso aos serviços básicos. Estima-se que mais de 355.000 pessoas estejam deslocadas internamente em Cabo Delgado e nas províncias vizinhas de Nampula e Niassa, no final de Outubro de 2020, com números a aumentar a cada dia.
A violência, deslocamentos e consequente perda de meios de subsistência também estão a aumentar a insegurança alimentar em Cabo Delgado: mais de 710.000 pessoas enfrentam fome severa, incluindo pessoas deslocadas e comunidades anfitriãs.