ONU Condena Veementemente os Ataques em Palma e Reitera Solidariedade e Apoio ao Governo de Moçambique
Porta-Voz do Secretário-Geral destaca relatos alarmantes de que dezenas de civis podem ter sido mortos durante ataques e confrontos desde a semana passada.
Maputo, Moçambique - A ONU e parceiros humanitários estão profundamente preocupados com a segurança dos civis na cidade de Palma, no norte de Moçambique, após o recente ataque por grupos armados não estatais e os confrontos em curso relatados na região desde 24 de março
Em nota emitida, nesta segunda-feira, o porta-voz do secretário-geral informou que as comunicações em Palma estão interrompidas e é extremamente difícil verificar as informações sobre a situação. No entanto, as Nações Unidas receberam relatos alarmantes de que dezenas de civis podem ter sido mortos durante os ataques e confrontos.
"Prevemos que milhares de pessoas fugiram de Palma e estão a fazer o seu caminho a pé, de barco e de estrada para chegar a destinos mais seguros. Muitas dessas pessoas estarão fugindo sem nada, algumas viajando pelo mato. Eles precisarão de assistência urgente em seus destinos", afirmou o porta-voz do Secretário-Geral da ONU.
"A ONU e nossos parceiros humanitários responderam rapidamente, garantindo que tenhamos equipes prontas para receber os que estão fugindo. No entanto, precisamos urgentemente de financiamento adicional para responder a esta nova crise", continuou.
Pessoas deslocadas internamente
As equipas de acompanhamento de deslocados da Organização Internacional para as Migrações (OIM) já receberam relatos da existência de mais de 3.100 pessoas deslocadas de Palma a chegar aos distritos de Nangade, Mueda, Montepuez e Pemba.
Viviam no distrito de Palma mais de 110.000 pessoas, antes dos combates, entre os mais de 67.000 residentes e mais de 43.600 pessoas que tinham procurado refúgio na vila, provenientes de outras partes da província de Cabo Delgado desde que o conflito começou, em outubro de 2017.
Antes dos acontecimentos iniciados em 24 de março, as pessoas em Palma enfrentavam já uma situação precária, em que a insegurança agravava um período de escassez, deixando “milhares de pessoas com necessidades urgentes de assistência adicional”, segundo o Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários das Nações Unidas (OCHA)
“Em janeiro de 2021, depois de ataques e a insegurança terem cortado todas as principais vias rodoviárias de acesso a Palma, foram relatadas faltas de mercadorias básicas nos mercados”, aponta OCHA em relatório.
Por outro lado, a escalada da violência em Palma ocorre num momento em que mais de 1,3 milhões de pessoas - incluindo quase 670.000 pessoas deslocadas internamente - já necessitavam de assistência humanitária e de proteção urgentes em Cabo Delgado e nas províncias vizinhas de Niassa e Nampula, segundo a agência da ONU.
“Quase 580.000 pessoas foram retiradas das suas casas só em 2020, período em que o número de ataques por grupos armados não estatais - incluindo assassinatos, decapitações e raptos - se expandiu geograficamente e aumentou de intensidade”, sublinha-se no relatório.
Assistência que salva vidas
O Programa Mundial para a Alimentação (PMA) também expressou preocupação com o agravamento da crise humanitária e da situação de segurança alimentar na região. O PMA está enviando 2.000 rações de resposta imediata para apoiar a população deslocada, caso cheguem a Pemba ou na Ilha de Ibo, bem como a população deslocada que chega a Mueda.
Outros 2.000 kits de rações de resposta estão sendo pré-posicionados para apoiar as populações deslocadas na parte sul do distrito de Palma. Pessoas sendo evacuadas via Afungi tanto por ar quanto por mar também estão sendo ajudadas com biscoitos de alta energia
O PMA e seus parceiros entregaram 258 toneladas métricas de assistência alimentar em 21 de março para atender às necessidades de quase 16.000 pessoas por um mês em Palma. A assistência alimentar adicional no distrito de Palma foi temporariamente suspensa como resultado da violência contínua no distrito de Palma.
O Serviço Aéreo Humanitário administrado pelo PMA está atualmente apoiando a evacuação de civis, incluindo mulheres e crianças. A ONU está transportando equipes médicas e humanitárias para apoiar os feridos e os mais necessitados.
Insegurança Alimentar
A Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO) advertiu hoje que a situação de insegurança alimentar em Cabo Delgado se deteriorou devido à violência em curso que interrompeu a vida de mais de meio milhão de pessoas, que tiveram que deixar para trás quase todos os seus bens, incluindo colheitas e ativos pecuários. As autoridades locais em Cabo Delgado estimam que o conflito resultou numa queda de 30% na produção em comparação com a campanha agrícola anterior.
A FAO está actualmente a implementar projectos em quatro distritos que acolhem famílias em Cabo Delgado e três na Província de Nampula. O objetivo é ajudar a restaurar os meios de subsistência da população afetada.
A FAO também está ajudando famílias que hospedam pessoas deslocadas para aliviar a pressão sobre seus recursos e abastecimento de alimentos.
Entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021, a FAO atingiu mais de 14.000 famílias, usando cartões eletrônicos para fornecer a cada família acesso a crédito para comprar cereais, sementes de hortaliças e ferramentas agrícolas, garantindo que as pessoas afetadas possam produzir seus próprios alimentos e, assim, reduzir sua dependência.
Plano de Resposta Humanitária para 2021
A comunidade humanitária em Moçambique já estava respondendo à múltiplas emergências climáticas, além do conflito em Cabo Delgado, nos primeiros meses de 2021. No entanto, o Plano de Resposta Humanitária para a crise de Cabo Delgado está severamente subfinanciado com apenas 1% dos US$ 254 milhões de dólares mobilizado até o momento. Mais recursos são imediatamente necessários para atender às necessidades das pessoas que fogem da insegurança na Província.